SEMINÁRIO-HOMENAGEM À PROFª. LUCIE TANGUY

ªHonrar um pensador não é elogiá-lo, nem mesmo interpretá-lo, mas discutir sua obra, mantendo-o, dessa forma, vivo, e demonstrando em ato, que ele desafia o tempo e mantém sua relevância.
Cornelius Castoriadis


Eu vejo o meu papel como de um "passeur" no sentido que essa palavra adquire em esportes coletivos, daquele que passa a bola a um membro da equipe melhor colocado para atingir o objetivo.
Lucie Tanguy

24 de outubro de 2011

Local: Auditório Zeferino Vaz - Instituto de Economia - UNICAMP
(Rua Pitágoras, nº.353)


O objetivo do seminário é discutir sociologicamente o processo de constituição da sociologia do trabalho, seus temas e objetos de pesquisa numa comparação internacional Brasil e França, privilegiando o período compreendido entre a segunda metade do século XX até o presente. Para tanto, tomaremos como eixo central a pesquisa realizada, na França, pela professora emérita  Lucie Tanguy nos arquivos do Ministério do Trabalho daquele país. O objetivo de sua pesquisa foi questionar a história convencional da sociologia do trabalho por meio da história social do ISST – Instituto das Ciências Sociais do Trabalho, de seus fundadores (Friedmann, Naville, Touraine, entre outros), dos pesquisadores que eles formaram neste campo, dos temas tratados e articulações políticas estabelecidas a partir das diretrizes e financiamentos oriundos do Plano Marshall,  em 1947. Reconstruir a Europa com o apoio dos países aliados foi o objetivo desse plano. Entre outras ações, significativo investimento foi destinado à França para pesquisas no campo do trabalho, sobretudo voltadas para a formação profissional e para o incremento da produtividade.
A sociologia do trabalho no Brasil se desenvolveu, no mesmo período, num constante diálogo com os autores franceses citados. Ela também foi se configurando por meio de financiamentos e temas de pesquisa imbricados com a problemática do trabalho no processo de modernização do país, no pós guerra.

09h – ABERTURA
 Prof. Dr. Vicente Rodriguez
Chefe Departamento em Ciências Sociais/FE
Prof. Dr. Ronaldo A. Pilli
Pró Reitor Pesquisa da UNICAMP
Prof. Dr. Euclides de Mesquita Neto
Pró Reitor Pós Graduação da UNICAMP
Prof. Dr. Dario Fiorentini
Coordenador Pós Graduação da Faculdade de Educação
Prof. Dr. Valeriano M. F. Costa
Coordenador Pós Graduação em Ciências Sociais /IFCH
 
09h30 – 12h30
MESA 1 – A Sociologia do Trabalho como campo de pesquisa
Coordenadora: Maria Rosa Lombardi (FCC/GEPEDISC)
José Sérgio Leite Lopes (Museu Nacional/UFRJ)
A constituição e desenvolvimento da Sociologia do Trabalho no Brasil
Aparecida Neri de Souza (FE/UNICAMP)
Fronteiras entre as duas esferas sociais: a educação e o trabalho
Márcia de Paula Leite (FE/ IFCH/UNICAMP)
A Sociologia do Trabalho na América Latina
Liliana Rolfsen Petrilli Segnini (FE/IFCH/UNICAMP)
A Sociologia do Trabalho na França: uma leitura brasileira do trabalho de pesquisa de Lucie Tanguy
 
14h30 – 17h30
MESA 2 – Passando o bastão: formação de novas gerações de pesquisadores
Coordenadora: Carmem Lúcia Rodrigues Arruda (FE/UNICAMP)
Na França
Prisca Kergoat (Centre Universitaire J.F Champollion (Albi), CERTOP /CNRS Université Toulouse 2, Le Mirail)
Políticas de aprendizagem na empresa num contexto de crise do emprego e da escola
Nicolas Divert (Paris 12/Créteil)
Da costureira ao grande costureiro. A construção de um mercado de formação profissional em estilismo
No Brasil
Vicente Rodriguez (FE/UNICAMP)
Descentralização e formação continuada de professores na Região Metropolitana de Campinas
Maria Lúcia Büher Machado (IFPR /Campus Paranaguá )
Formação e Modernização: uma abordagem sócio-histórica da Escola Técnica de Curitiba (1930-1960)
Selma Borghi Venco (UNIMEP/FE/UNICAMP)
Desafios para a superação da lógica das competências na educação pública

ENCERRAMENTO
Coordenadora: Liliana Rolfsen Petrilli Segnini
Lucie Tanguy
Directrice de Recherche Emérita /CNRS
Laboratório CRESPPA/GTM – Université Paris 10 e Paris 8

17h30 – Coquetel – ADUNICAMP
Duo Violão & Flauta
Cesar Pereira e Diogo Oliveira

Programa da Apresentação
Castelnuovo-Tedesco, Mario - Allegretto grazioso, da Sonatina para Flauta e Violão; Gnattali, Radamés - Movido, da Sonatina para Flauta e Violão; Villa-Lobos, Heitor - Ária das Bachianas Brasileiras nº 5; Piazzolla, Astor - História do Tango.

PESQUISADORES FRANCESES:

O sociólogo do Trabalho  no Espaço político da construção do conhecimento
Lucie Tanguy
Directeur de recherches Emérita au CNRS
Laboratoire CRESPPA/GTM – Genre, Travail et Mobilités, Université Paris X, Nanterre.

Resumo: Todos os fundadores da sociologia enfatizaram, de diferentes formas, a distinção entre ciência e política. Mas, como pensar esse duplo imperativo imposto aos sociólogos: dar respostas às questões sociais e, ao mesmo tempo, fazer “ciência”? E o que se entende por essa noção de “ciência” que nunca teve uma definição única e definitiva? Examinaremos qual foi  a compreensão de ciência elaborada pelos sociólogos do trabalho na França ao longo dos anos 1950-60, de um lado, e dos anos 1980-90, de outro. Este estudo inspira-se nos “science studies” e pretende aplicar os esquemas de análise construídos por essa corrente de pesquisas: compreender como e porque esse modo de produção de conhecimentos científicos se impõe, deixando de lado outras possibilidades, graças às condições sociais e políticas do momento.
Mostraremos como uma sociologia empírica de estilo quantitativo se afirmou, em decorrência de uma conjunção de fatores, como a forma mais apropriada ao estudo dos problemas sociais do presente imediato: o estudo da mudança, imperativo econômico e político colocado pelos tomadores de decisão, dos anos 1960.
Aplicando o mesmo procedimento de análise às políticas, programas e pesquisas realizadas durante os anos 1980-90, mostraremos que a ambição de fazer uma ciência positiva, afirmada nos anos 1950-1970, diminuiu progressivamente, levando com ela a importância atribuída ao método. Ao longo das últimas duas décadas examinadas, os sociólogos se preocuparam mais em contribuir para a produção das mudanças sociais inscritas nas políticas e programas de pesquisa. Pensar a mudança sem observar o que não muda traduziu-se em uma perda de capacidade crítica das análises sociológicas realizadas. O lugar do sociólogo na cidade, o modo de produção de conhecimento científico, assim como o estatuto da pesquisa foram então redefinidos. Seguir o caminho percorrido pela sociologia do trabalho, mostrá-la como uma disciplina em estado de “revolução científica” crônica, nunca chegando a um regime de “ciência normal”. Vista por muito tempo como uma sociologia crítica, a sociologia do trabalho parece ter-se alinhado, nos anos 1980-90, ao lado das políticas reformadoras.
Observada a partir da pesquisa, a sociologia do trabalho se apresenta, do mesmo modo que a sociologia em seu conjunto, sob uma forma de “ciência” eminentemente contextualizada, sujeita a vontades permanentes de ruptura e de renovação.
O método adotado para realizar esse exercício reflexivo sobre a evolução da sociologia do trabalho na França, ao longo de quatro décadas, será devidamente explicitado a fim de torná-lo reprodutível e apto a ser transposto a uma pesquisa da mesma natureza, aplicada a outros países com tradições sociológicas diferentes.


Políticas de aprendizagem na empresa num contexto de crise do emprego e da escola
Prof. Dr. Prisca Kergoat
Centre Universitaire J.F Champollion , CERTOP /CNRS Université Toulouse 2, Le Mirail

Resumo: Vista desde o final dos anos 1960 como um modo de formação ultrapassado, a aprendizagem francesa está condenada a um declínio inelutável. Contudo, a partir do final dos anos 1980, conhecerá um novo florescimento: seus efetivos duplicam em 20 anos. Essa forte valorização social, inédita na história da aprendizagem francesa, permite assim que concorra com as formações profissionais escolarizadas.
É que a aprendizagem é objeto de um consenso político entre o Estado (e seus diferentes ministérios) e o patronato francês, mas também entre a direita e a esquerda. Enquanto na Europa a aprendizagem é preconizada por suas virtudes pedagógicas, na França é vista – pelos decisores, que são o Estado e as coletividades locais – como uma ferramenta que possibilitaria bem mais do que a escola (e a universidade) lutar contra as desigualdades sociais. Por estar ligada ao mundo do trabalho e centrada nos saberes práticos, a aprendizagem permitiria deter o desemprego, ao mesmo tempo em que ofereceria uma alternativa aos jovens em dificuldades escolares e/ou sociais. O pagamento de um salário e a possibilidade de encadear a preparação de três diplomas de níveis diferentes permitiriam às juventudes populares elevar-se no seio da hierarquia social.
Entretanto, esses argumentos, considerados evidentes, não se sustentam diante de um exame das práticas das empresas e dos estabelecimentos de formação.
Mostrarei como a formulação de políticas em termos de níveis associada a um descomprometimento do Estado e a uma valorização da empresa formadora leva a reconfigurar as hierarquias tradicionais e, ao mesmo tempo, acentua as desigualdades sociais. Não apenas as práticas de seleção da mão-de-obra operadas pelas empresas são legitimadas pelos estabelecimentos de formação como seus efeitos desigualitários se reforçam, na medida em que são deslocados: elas já não determinam somente o acesso ao emprego, mas também o acesso à educação (ou dispositivo de formação).

Da costureira ao grande costureiro.
A construção de um mercado de formação profissional
Nicolas Divert
Maître des Conferences à l'Université Paris 12 (Créteil)
Pós-doutorando CRESPPA-GTM. Universidade Paris VIII, Universidade Paris X e CNRS

Resumo  - A costura, em um passado não muito distante, era uma das atividades econômicas que proporcionava ofícios qualificados às mulheres, e se abriu uma grande oferta de formações profissionais nesse campo. Indústria de mão-de-obra composta principalmente de operárias, o deslocamento dessa atividade para países com baixo custo de produção inverteu uma configuração estabelecida há várias décadas: ofícios e formações se deslocaram para o alto da hierarquia profissional na indústria da moda (e não mais da indústria têxtil e do vestuário), o estilismo. Com isso, a oferta de formação se modificou, e as escolas privadas tomaram o lugar ocupado antes por instituições públicas.
Analisaremos o duplo movimento de deslocamento do público para o privado na formação para os ofícios da moda e a inversão de gênero que o acompanha, com a figura do grande costureiro substituindo a da costureira. Esta pesquisa, realizada no âmbito de uma tese intitulada “Da costureira ao grande costureiro. Do ensino médio profissional às escolas de estilismo”, adotou o método de estudo de caso em uma perspectiva sócio-histórica. Apresentaremos o caso de uma escola sob a tutela da organização patronal da alta costura e mencionaremos, em contraposição, o de uma escola pública de arte aplicada para mostrar as características de cada uma e os respectivos recursos mobilizados na concorrência que enfrentam no mercado da formação que, à imagem do mercado de trabalho, tende a se mundializar.

 PESQUISADORES BRASILEIROS:


A constituição e desenvolvimento da sociologia do trabalho no Brasil
José Sergio Leite Lopes
colaboração com Elina Pessanha e José Ricardo Ramalho
 Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo: A intenção desta apresentação e do projeto em que se baseia, é aprofundar, por um lado, a análise das diferenças nas trajetórias destes sociólogos (Azis Simão, José Albertino Rodrigues, Juarez Brandão Lopes e Leôncio Martins Rodrigues), considerando que mais do que uma "escola de pensamento", trata-se de um "pensamento de escola", na medida em que todos eles passaram, ou por alguma das duas cadeiras de sociologia da Universidade de São Paulo, ou pela Escola de Sociologia e Política. As relações individuais destes sociólogos com os grupos hegemônicos dentro da sociologia universitária; sua integração nos outros institutos ou departamentos aos quais a sociologia oferecia seus quadros; a incidência de sanções políticas que tiveram o efeito de interromper ou de desviar suas carreiras; as probabilidades de exposição à circulação internacional das idéias, através dos deslocamentos pessoais ao exterior ou por seu pertencimento a redes internacionais; assim como também sua exposição diferencial à circulação das idéias entre as classes sociais, em particular com relação ao seu próprio objeto de estudo, a classe operária (por exemplo Azis Simão e José Albertino Rodrigues tiveram forte relação com os sindicatos de trabalhadores); estas são algumas das questões que deverão ser aprofundadas.
Por outro lado, trata-se de comparar a experiência e a produção desses sociólogos profissionais de São Paulo, com o que ocorria em outros centros de pensamento do país, em particular no Rio de Janeiro. Para tanto a idéia é recuperar a trajetória de Evaristo de Moraes Filho, figura exemplar dos sociólogos de uma formação anterior, divididos entre a sociologia e o direito do trabalho, entre o conhecimento acadêmico e o campo burocrático do Estado. Trata-se, também, de analisar a circulação entre os grupos de pesquisadores de São Paulo e os do Rio de Janeiro (cf., por exemplo, as relações entre F. Fernandes, O. Nogueira, ou J.R. Brandão Lopes e a equipe do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais -CBPE do Rio), sem abstrair a presença de outros centros.
As análises propostas pelos críticos e as resenhas bibliográficas que focalizam os estudos sobre trabalhadores estão centradas sobre as temáticas, os resultados, os debates, em suma sobre os conteúdos das obras produzidas a respeito da classe trabalhadora brasileira. Sem deixar de reconhecer a pertinência destas análises, a que aqui se propõe refere-se menos aos objetos das pesquisas que à relação dos pesquisadores com seus objetos de estudo; isto é, tem menos a ver com os textos e mais a ver com os contextos. Ora, se os contextos das obras quase não são importados junto com as obras na circulação das idéias entre as nações, também acontece que estes contextos se perdem entre uma e outra geração no interior das próprias nações: este é o caso do desenvolvimento desta questão no Brasil, especialmente alterado pelos efeitos da intervenção do campo político sobre o campo intelectual e sobre a universidade.
Pode-se admitir para maior comodidade que esta literatura seja apresentada como associada a diferentes "fases": aquela  anterior a 1964 (na maior parte dos casos pesquisas iniciadas nos anos 50 e publicadas entre 1964 e 1970), o período 1972-78, quando são feitas as primeiras rupturas com as análises anteriores, e o período da produção mais massiva das florescentes pós-graduações, a partir do fim dos anos 70. Neste projeto dar-se-á uma atenção particular ao primeiro período: ele é especialmente importante não somente para neutralizar os efeitos do anacronismo provocado pelas mudanças operadas pelo golpe de estado de 1964 (data que atravessa todos os campos e os transforma), mas também por causa das propriedades de gênese que ele contem -- esse complexo trabalho social de construção de novos profissionais, posições sociais e apreciações performativas sobre as classes populares.



Fronteiras entre duas esferas das atividades sociais: a educação e o trabalho.
Profa. Dra. Aparecida Neri de Souza
 Faculdade de Educação/ Decise  – Unicamp

Como construir análises de determinadas dimensões da realidade social que são tratadas, geralmente, de maneira separada, ora pela sociologia da educação, ora pela sociologia do trabalho?
Ao propor a análise crítica sobre um campo de conhecimento que é objeto de debate e de discursos programáticos é possível relevar as tensões  nas quais a educação profissional é objeto. De forma geral a educação profissional, seja aquela destinada à formação de operários, seja aquela destinada à formação de técnicos, são desconhecidas dos sociólogos que estudam a educação escolar.
Lucie Tanguy realiza análise sociológica não dissociada das configurações históricas sobre uma atividade social – a educação - que não cessa de se autonomizar em relação às outras esferas de atividades, em especial o trabalho.
Nesta direção Lucie Tanguy colocou os professores na cena e mais precisamente os professores da educação profissional, aqueles que se ocupam nos liceus profissionais da formação de operários.  Compreendendo-os como categoria profissional composta por indivíduos com trajetórias escolares e profissionais singulares e diversas.
A partir de pesquisa focada nos professores é possível iluminar certo número de relações nas quais se inscrevem a educação profissional: o lugar no sistema educacional, as relações entre a organização do trabalho e as políticas públicas, entre outros. A análise permite romper com certos mitos sobre a formação profissional, dentre os quais aqueles que representam a educação como instrumento de reprodução social.

A Sociologia do Trabalho na América Latina
Profa. Titular  Marcia de Paula Leite
 Faculdade de Educação/ DECISE e Doutorado em Ciências Sociais – Unicamp

Resumo: A sociologia do trabalho tem direcionado sua atenção desde as duas últimas décadas do século passado para novos fenômenos em curso em um mundo que sofre um rápido processo de transformação. Nesse sentido, ela tem recebido a contribuição de novos temas e questões, assim como muitas das questões que a têm preocupado historicamente têm sido tematizadas de novas formas ou a partir de novas preocupações.
Destaquem-se nesse sentido, os estudos sobre a reestruturação produtiva, as novas formas de organização do trabalho, o novo padrão de acumulação do capital, as novas formas de organização empresarial, as condições de trabalho na atualidade, a precarização do trabalho, as novas relações entre capital e trabalho, a nova divisão internacional do trabalho.
Esta apresentação buscará discutir as questões que esses novos temas nos colocam, bem como os desafios teórico-metodológicos que eles trazem consigo. 


A sociologia do trabalho na França: uma leitura brasileira do trabalho de pesquisa de Lucie Tanguy  
Profa. Titular Liliana Rolfsen Petrilli Segnini
DECISE/ FE e Doutorado em Ciências Sociais/ IFCH - UNICAMP

A leitura do recém lançado livro de Lucie Tanguy La sociologie du travail em France: enquête sur le travail des sociologues, 1950-1990 nos instiga a indagar a história das relações de trabalho no Brasil. Para tanto, nos apoiaremos na sua proposta metodológica para evidenciar as diferenças observadas nas história recente brasileira no campo do trabalho e da sociologia que o analisa, bem como refletir sobre dimensões análogas  que aproximam os dois países, tentando explicar umas e outras.


Descentralização e formação continuada de professores na Região Metropolitana de Campinas
Prof.  Doutor Vicente Rodriguez  - Faculdade de Educação/Decise – Unicamp

 Resumo: As transformações sociais que ocorrem no processo de mundialização do capital constituem o objeto de pesquisa e formação de novas territorialidades. Em continuidade com a preocupação de analisar os processos que afetam a governabilidade política contemporânea, propõe-se observar as alterações políticas de uma fase específica de desenvolvimento do capitalismo, assim como interrogar as alterações no papel do Estado neste processo.
Nossas pesquisas anteriores verificaram o processo de descentralização na França observando o desenvolvimento dos Governos Regionais. A atual pesquisa continua a interrogar as novas formas institucionais, financeiras, políticas e administrativas que conformam as condições de uma governabilidade subnacional.  Assim como analisa o processo de reforma do sistema educacional francês para adequar a formação docente às novas exigências supranacionais criadas pelo novo espaço comunitário de educação.
Os recentes mecanismos de governabilidade supranacionais, tanto econômicos quanto políticos, consideram os Estados  instituições cruciais para criar condições e dar estabilidade a nova situação internacional do capitalismo atual.  Desta forma os Estados nacionais não desaparecem, mas, com a soberania reduzida, assumem um novo papel de prover legitimidade aos mecanismos de governança supranacional em expansão e legitimar as formas de governabilidade sub nacional, reforçadas nos processos de descentralização política.
A relação da organização política frente ao modo como países gastam em serviços sociais é uma preocupação constante nos estudos relacionados às políticas educacionais. A organização da distribuição e do financiamento de políticas sociais está vinculada às relações políticas e financeiras entre seus entes. Desta maneira, s será analisado, tanto no Brasil como na França, o processo de regionalização, a evolução das responsabilidades educativas das Regiões de Governo.


Considerações sobre os caminhos de um projeto de doutoramento à luz das reflexões teórico-metodológicas propostas por Lucie Tanguy
Profa. Dra. Maria Lúcia Büher Machado
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná - Campus Paranaguá

Resumo: Marcada pelas inquietações que nos acompanham no percurso dos anos de pesquisa ao longo do doutoramento, propiciadas a partir da ampliação dos aportes teóricos, das discussões sobre as (in) certezas metodológicas, a riqueza da construção da Tese enquanto processo e amadurecimento acadêmico é tão relevante quanto os resultados que apresentamos formalmente à comunidade científica, materializada na Tese finalizada.
É nesse quadro que situamos a importância do Acordo CNRS FAPESP 2006/2009 “Qual é o sentido social da modernização no trabalho?, e a realização de Seminários nesse âmbito, com as discussões trazidas por pesquisadoras brasileiras e francesas, através dos quais tivemos a  oportunidade  da interlocução com as questões instigantes trazidas pela socióloga Lucie Tanguy, em especial  sobre dois aspectos: a relação entre a categoria Formação com a Modernização,  e a abordagem sócio-histórica como encaminhamento para análise de documentos, na perspectiva da sociologia empírica.
Ao analisar o processo de modernização na França ao longo do século XX, e as reformas empreendidas na sociedade naquele contexto, Lucie Tanguy parte de três questões fundamentais em sua pesquisa: Quem promove as mudanças apresentadas como necessárias? O que se promove? Como se promove? Tais questões  propostas pela socióloga, expostas nos seminários, foram fundamentais para a Tese que desenvolvemos, intitulada “Racionalidade, Trabalho e “Harmonia Social”: Configurações  do projeto de modernização brasileira e ensino industrial na Escola Técnica de Curitiba (1930-1960)”.
Partimos das duas primeiras perguntas sugeridas  por Lucie Tanguy, para  a análise das propostas estabelecidas para a formação da força de trabalho no Brasil, expressas na legislação e nas discussões engendradas em âmbito nacional sobre o ensino industrial no período investigado, e finalmente, ao nos direcionarmos para a Escola Técnica de Curitiba fizemos a 3ª pergunta -  como ocorreram tais mudanças?
Apontamos ainda a pertinência das argumentações da socióloga sobre as questões metodológicas. Ao trabalharmos com uma diversidade de documentos  na realização da pesquisa - fontes escritas e orais, pertencentes ao acervo histórico da instituição analisada,  parte da documentação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) sobre o ensino industrial, e depoimentos de professore/as e alunos/as que estiveram envolvidos no contexto analisado - tivemos como perspectiva as considerações de Tanguy sobre a importância de não reduzir a sociologia empírica a uma simples descrição do campo, sem perder a referência principal  que são as categorias analíticas, no caso da nossa pesquisa  - Formação e Relações sociais de Gênero.
Dessa forma, além dos resultados da investigação, pretendemos apresentar nesta mesa a importância do percurso acadêmico para a construção da pesquisa, onde as discussões de Lucie Tanguy, juntamente com demais autores/as, como Daniéle Kergoat (relações sociais de gênero), e Norbert Elias (conceitos de configuração e interdependências) foram o lume para a análise dos processos sociais desencadeados no contexto estudado.


Desafios para a superação da lógica das competências na educação pública
Proa. Dra. Selma Venco
UNIMEP e DECISE/FE/ UNICAMP

Esta comunicação tem como objetivo debater a atualidade do modelo de competências presente na educação pública e possíveis caminhos para sua superação. Para tanto nos apoiaremos nas reflexões tecidas por Lucie Tanguy (2001, 2006, 2007), pautadas pela problematização de uma vertente da pedagogia marcada por um caráter eminentemente pragmático, guiada por objetivos e pela cultura do desempenho.
Os anos 1990 agudizaram um processo histórico já observado na relação educação e trabalho. A noção de competências presente na educação básica orientou, entre outros aspectos, a adaptação do trabalhador às novas formas de organização e de gestão do trabalho.
Os dois desenhos de políticas públicas de educação, um voltado à qualificação profissional de nível básico e outro de educação formal para jovens e adultos - a serem aqui debatidos -, visam, por um lado, romper com a instalação do modelo de competências e da “insularidade dos saberes” (Tanguy, 2001). Por outro, resgatar o sentido da construção do conhecimento entre a população adulta, articulando-o com o mundo do trabalho, mas este inscrito dentro de uma perspectiva crítica e conhecedora de seus direitos.
As pesquisas realizadas (2009, 2010) junto a participantes de cursos de qualificação profissional indicam que estes vivenciam, em grande parte, uma condição de desemprego por desalento e passam, a partir deste, a retomar os estudos formais e a buscar novos caminhos para romper o processo de desfiliação na sociedade (Castel, 1998).  O desenho levado a cabo suplantou a relação binária formação e inserção no mercado de trabalho e contribuiu, segundo os entrevistados, para a construção de nova trajetória social é sobre essa dimensão que trataremos neste texto.



 
 


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